26 de abr. de 2024

"A escravidão é sempre um erro"

 "A escravidão é sempre um erro"


"Não tenho, portanto, medo de que o presente volume não encontre o acolhimento que eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os que sentem a dor do escravo como se fora a própria, e ainda mais, como parte de uma dor maior – a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar – e a coragem de aceitar as consequências desse pensamento – que a pátria, como mãe, quando não existe para os mais dignos; aqueles para quem a escravidão, degradação sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que a sofre; por fim, os que conhecem as influências sobre o nosso país daquela instituição no passado e, no presente, o seu custo ruinoso, e preveem os efeitos da sua continuação indefinida."


Joaquim Nabuco

(O abolicionismo, 1883)



CARGA TRIBUTÁRIA

Segundo a Receita Federal, a carga tributária média dos países da OCDE, em 2020, estava em de 33,5% do PIB, enquanto a brasileira era de 30,9% do PIB.


25 de abr. de 2024

TOLERÂNCIA

TOLERÂNCIA

 

“Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”

(Evelyn Beatrice Hall, e atribuída a Voltaire)

 

“Devemos, então, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante, exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique à margem da lei e qualquer incitação à intolerância e à perseguição seja considerada criminosa, da mesma forma que incitação ao homicídio, sequestro de crianças ou tráfico de escravos.”

(Evelyn Beatrice Hall) 

 

“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.”

(Karl Popper)

24 de abr. de 2024

O SÉCULO DA CHINA

 

O SÉCULO DA CHINA

Oded Shenkar

Bookman, 2005

 

 

O impacto do crescimento da China será enorme, e assim também será a necessidade de desenvolver estratégias e reações a este desafio

 

Obstáculos:

  • Sistema bancário primitivo
  • Serviços ineficazes
  • Propriedade intelectual

 

Trata de ocupar áreas nas quais o mais importante é a tecnologia

 

Chineses são o maior contingente de estudantes estrangeiros nos EUA

 

O aumento da proporção de títulos de dívida norte-americanos em posse de estrangeiros poderia causar crise de confiança em relação aos EUA e desestabilizar a economia global

 

A China pretende manter sua vantagem em mão-de-obra intensiva à medida que avança nas categorias de produtos mais sofisticados

 

É mais barato produzir na China, mesmo levando-se em conta custos de transporte e acordos nos quais se comprometem a dedicar grande parte de sua produção à exportação

 

A maré de exportações chinesas só tende a aumentar

 

A transferência de plantas manufatureiras para a China é igualmente impulsionada pelos impressionantes progressos ocorridos nas cadeias de suprimentos globais

 

As economias também são registradas na redução do tempo de acabamento das mercadorias, variável crucial em artigos customizados, como móveis

 

A China precisa proporcionar empregos para um imenso contingente de jovens

 

Camponeses desiludidos têm sido a origem de rebeliões ao longo de toda a história da China, e o bem-estar econômico é especialmente crucial para um regime que espraiou sua base ideológica e agora tem na prosperidade econômica e no nacionalismo suas únicas fontes de legitimidade

 

Os empregos estão especialmente em risco

 

O mercado chinês está criando muitos empregos para as indústrias que exportam suas mercadorias e serviços para a própria China

 

O legado do planejamento central é tanto uma celebração da restauração da dignidade nacional quanto um ponto central a partir do qual são refletidas as deficiências de um regime econômico rígido

 

Elementos básicos do confucionismo, como a disciplina, a estabilidade, o mérito e realizações acadêmicas e o prestígio da burocracia sobreviveram e estão presentes na era moderna

 

As decisões judiciais ainda são adotadas por burocratas

 

O progresso das qualificações científicas chinesas como fator fundamental não apenas da reforma econômica, mas também da capacidade nacional de reivindicar e asseverar seu status geopolítico

 

No decurso dos 25 anos seguintes à reforma em outubro de 1978, o país mudou seus focos de investimento do turismo para manufatura leve, da política de forçar investidores estrangeiros a adotar um parceiro chinês para a política de permitir subsidiárias de propriedade totalmente estrangeiras

 

A China precisava construir uma infraestrutura (humana, educacional e organizacional) para dar suporte ao complexo de produção e incentivar suas aptidões

 

Internamente, a agenda política da liderança chinesa não inclui uma transição para a democracia

 

A China é, e provavelmente continuará sendo, diferente

 

Desde o início das reformas em 1978, a China adotou um rumo cauteloso e bem medido que pretende não apenas manter a estabilidade, mas também atingir a transformação sustentável da macroeconomia, das empresas e dos participantes individuais

 

No final de 2003 a liderança resolveu dar ao setor privado os mesmos direitos exercidos pelas empresas estatais

 

O setor de serviços da China continua no estágio do subdesenvolvimento

 

Sem condições para concorrer em serviços financeiros e de logística

 

O avanço nos setores de transportes e comunicações é essencial para o desenvolvimento interno da economia chinesa

 

Uma sólida rede financeira e de seguros é vital para o futuro desenvolvimento do país

 

O Império do Meio está novamente em ascensão, decidido a retomar o esplendor do passado

 

Liberaliza segmentos cada vez maiores da atividade econômica

 

Recebe uma quantia de investimentos estrangeiros superior àquela destinada ao conjunto dos outros países em desenvolvimento

 

Compreender o futuro impacto da China sobre o resto do mundo

 

O mercado de carros de luxo não estava a salvo da concorrência asiática

 

A China conta com imensos investimentos estrangeiros (algo que o Japão rejeitou no seu tempo)

 

As fábricas japonesas de automóveis transplantadas para os EUA tinham como política não contratar ex-funcionários do mesmo setor norte-americano

 

A maior parte dos países considera os Estados Unidos um concorrente desleal

 

Historicamente, a China tem sido inovadora e o Japão um imitador ou aperfeiçoador

 

Colocou a nu muitas vulnerabilidades do sistema dos chaebols – falta de transparência, administração deficiente, tomada descontrolada de crédito e inexistência de um foco estratégico

 

Gradual desistência chinesa da importação de linhas completas de produção e sua substituição pelo licenciamento e transferência de tecnologia, consultoria e acordos de serviços, software de computação, produção em joint ventures e produção cooperativa

 

A China manteve então a determinação de buscar maneiras de adaptar “tecnologias estrangeiras sem valores estrangeiros” até o começo do período moderno da reforma

 

Foi aí que a liderança decidiu suspender seu preconceito em relação a tudo que fosse estrangeiro, desde que tivesse alguma utilidade para a China

 

“A cor do gato não tem a menor importância, desde que ele consiga caçar os ratos”

 (Deng Xiaoping)

 

O investimento estrangeiro passou a ter papel fundamental na transferência de tecnologia, e uma das primeiras medidas adotadas pela liderança reformista foi a aprovação de uma lei sobre joint ventures que deu prioridade ao investimento em alta tecnologia, sempre que dele participasse um sócio chinês

 

Apesar da liberalização dos mercados, objetivos nacionais ainda imperam, principalmente nas indústrias estratégicas ou “básicas”

 

Uma recente recepção para estudantes retornados constituiu uma eloquente demonstração de até que ponto a atitude anteriormente dominante foi modificada

 

Só nos EUA havia comprovadamente cerca de 65 mil estudantes chineses no ano acadêmico 2002-2003

 

Nas empresas de médio e grande porte, a proporção de recursos humanos que trabalha na atividade de P&D em relação ao total de empregados cresceu de 2,6% em 1987 para 3,9% em 1998, e a parcela de cientistas e engenheiros dentre os recursos humanos de P&D aumentou de 28,2% em 1987 para 54,4% em 1998

 

Esses empreendimentos têm seus números constantemente aumentados por uma nova geração de subsidiárias das universidades

 

Condicionar os investimentos estrangeiros à transferência de tecnologia

 

O impacto dos negócios da China assume configurações das mais diversas, desde as pressões de preços sobre os produtores nacionais e estrangeiros até a disputa pelos investimentos estrangeiros

 

Os europeus subsidiam pesadamente as vendas utilizando um mix de créditos e donativos

 

Muitos setores industriais e empresas foram, sem dúvida, apanhadas de surpresa, despreparadas para essa competição e sem conseguir entender a ameaça ao seu atual modelo de negócios ou a repentina aceleração das mudanças estruturais que, no passado, levaram décadas para se consumar

 

Para empresas que operam nos setores de mão-de-obra intensiva, o fim está próximo

 

A empresa que não quiser abandonar o mercado precisará desenvolver de imediato um novo esquema de jogo

 

Uma alternativa seria a exploração de linhas de produtos em que as qualificações especiais e o trabalham representem uma parte relativamente pequena do custo total

 

Empregar a capacitação tecnológica em áreas relacionadas não apenas à manufatura, mas também em serviços de acelerado crescimento

 

O fluxo comercial quase equilibrado da China prova que não é impossível vender nesse mercado

 

A migração de empregos para destinos que antes não figuravam no mapa econômico do mundo, entre eles a China, está no centro de intenso debate em andamento nos Estados Unidos e em outros países com interesses semelhantes, principalmente os do mundo industrializado

 

A terceirização no exterior cria uma rede adicional de valor para as exportações

 

A ascensão da China no começo do Século XXI não se resume apenas a uma maré de importações baratas, ao declínio de determinados segmentos do setor da manufatura em outros países ou à transferência de empregos para o exterior

 

A ascensão da China é um divisor de águas que transformará para sempre o panorama mundial

 

Nos próximos anos, a China precisará reformular seu setor bancário, desarmar uma crise potencial de segurança social e reagir com eficiência ao crescente descontentamento entre os trabalhadores desempregados e agricultores deslocados dos campos, bem como ao de tantos outros desfavorecidos

 

Os efeitos secundários do impacto da China serão sentidos durante muitos anos

 

Os empregos no setor manufatureiro serão em menor número, mas a produção industrial será desviada para outros produtos e tecnologias de maior valor

 

Uma parte cada vez maior do capital e dos recursos humanos será reinstalada no setor de serviços

 

A China já é o mercado de mais acelerado crescimento para as exportações norte-americanas

 

O século XXI verá a restauração das glórias da China como o Império do Meio

 

22 de abr. de 2024

Negócios de Impacto Social - NIS

 

FINANCIAMENTO DE NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL NO BRASIL

Edivan Batista Junior

Digitalpub 2024

 

A referência internacional mais relevante sobre a ideia inicial de Negócios de Impacto Social (NIS) consiste nos empréstimos de US$ 0,62 a cada uma das 42 artesãs que fabricavam tamboretes, concedidos em 1976, em Bangladesh, pelo professor de economia Muhammad Yunus, para compra de bambu, libertando-as de agiotas que exploravam essas mulheres em situação de vulnerabilidade

 

Pobres são plenamente equipados com habilidades e inteligência para se libertarem da pobreza, desde que tenham oportunidade.

 

A pobreza não é criada pelas pessoas pobres

 

O Brasil, em 2018, contabilizou 1.002 NIS cadastrados nas 6 áreas impactadas: tecnologias verdes, cidadania, educação, saúde, serviços financeiros e cidades

 

Os NIS têm como propósito e intenção a redução da pobreza e a solução de problemas sociais.

 

São modelos de negócios que buscam retornos financeiros e ao mesmo tempo benefícios sociais e ou ambientais em que a intencionalidade é vista como diferencial importante

 

ARTEMISIA, criada em 2005, conceitua NIS como ‘empresas que oferecem de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda”

 

Características:

  1. Foco na baixa renda
  2. Intencionalidade
  3. Potencial de escala
  4. Rentabilidade
  5. Impacto social direto
  6. Distribuição ou não de dividendos (não é critério que define NIS)

 

O relatório global Impact Investing Network apresentou mais de 1.340 organizações gerindo aproximadamente US$ 502 bilhões

 

A indicação foi de que o dinheiro para financiar NIS é oriundo de empréstimos

 

Para que se eleve o volume de financiamento de NIS é necessário reduzir os custos envolvidos para financiar:

  • Formalização dos negócios para reduzir risco e custo
  • Aumentar a participação dos demais atores do ecossistema
  • Aumentar nível de informação do empreendedor
  • Formatar linhas específica para NIS
  • Reduzir custo das operações
  • Flexibilização das linhas
  • Simplificação das linhas
  • Capacitação de atores do ecossistema

 

Ao avaliar os financiamentos para NIS no Brasil, identificam-se oportunidades de novas pesquisas que agreguem conhecimento à área e sugere-se a realização de outros estudos

 

Este livro também buscou apresentar a relevância do tema de financiamento para NIS no Brasil e contribuir para a multiplicação e o envolvimento de todos os atores que atuam neste campo, bem como reforçar a bandeira dos NIS no país

 

Referência:

YUNUS, M. Criando um negócio social. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

21 de abr. de 2024

O LEGISLADOR CHANTAGISTA

artigo da jornalista Juliana Diniz, publicado no Jornal O POVO, em 19-04-2024:



A tarefa de legislar é uma das mais desafiadoras da República e envolve uma grande responsabilidade democrática. É um trabalho que exige capacidade de compreender os anseios dos diferentes grupos sociais representados no parlamento; exige também disposição para a construção de consensos assim como uma permanente abertura ao influxo transformador do tempo. A lei, assim como todas as manifestações de uma cultura, não é estática, nosso senso do que pode ser tolerado amadurece com a mudança dos comportamentos e sensibilidades.

No modelo político que temos construído desde o fim das monarquias absolutistas, o Poder Legislativo ocupa uma posição especial, porque é considerado o braço estatal mais próximo do soberano, o povo. Os revolucionários que cortaram a cabeça dos reis tinham desconfianças dos juízes, a quem quiseram restringir, e buscaram prever rigorosamente os possíveis abusos dos titulares do poder executivo, neutralizando-os com controles externos. Governantes e julgadores só podem fazer o que a lei os permite, considerada a lei a voz legítima do verdadeiro titular da autoridade.

Essa digressão serve para lembrar o leitor de que não se deve legislar como quem joga cartas, apostando no tudo ou nada. Leis ruins impactam a vida das pessoas, desnaturam instituições, tornam o Direito débil, porque difícil de ser observado. Toda a estrutura sofre, corrompida a partir de seu alicerce. Um Legislativo irresponsável é causa e consequência de uma democracia frágil, e essa dificuldade deve inspirar em nós muita cautela e disposição de cobrança em face de parlamentares chantagistas.

A chantagem está às vistas de todos, e eu não saberia precisar se o chantageado é o Judiciário, o Executivo ou cada um de nós, os eleitores. Nossos senadores e deputados, em sua maioria, estão em pé de guerra com o Supremo Tribunal Federal, que consideram exorbitante em seu papel de guardião das leis. Indispostos com o dever de cumprir decisões judiciais por vezes necessárias e bem fundamentadas e incomodados por juízes não raro voluntaristas, decidiram elaborar leis com o objetivo de "mandar mensagens ao Supremo".

As leis são escolhidas a dedo para esse fim: aquelas que impactem a opinião pública, gerem pautas atrativas à mídia, atiçando o punitivismo que dorme no coração de muitos brasileiros. Cito o exemplo da PEC, aprovada nos últimos dias no Senado Federal, que busca criminalizar o porte para consumo de toda e qualquer quantidade de substância ilícita. Uma medida que faz pouco sentido em termos de política de combate ao tráfico e de política carcerária e que servirá para alimentar os presídios de corpos úteis à estrutura do crime organizado. Corpos bem marcados socialmente em termos de classe e raça, diga-se.

A mudança, se aprovada, será um pesadelo para o Poder Judiciário e para a polícia, e canalizará uma energia que poderia ser útil para resolver o problema do narcotráfico que nos assola. Ela nos levará a nos perguntar: afinal, que condutas são graves o suficiente para levar alguém ao cárcere? O que alimenta a saúde do tráfico, afinal, é o uso recreativo de algumas substâncias ou a persistência da sua proibição?

https://mais.opovo.com.br/colunistas/juliana-diniz/2024/04/19/o-legislador-chantagista.html

18 de abr. de 2024

BIOGRAFIA DO ABISMO

 

BIOGRAFIA DO ABISMO

Felipe Nunes e Thomas Traumann

Ed. Harper Collins, 2023

 

 

As corporações têm dificuldade de posicionar suas marcas

 

O Brasil de opiniões radicalizadas é um dilema para todos os brasileiros

 

As opiniões políticas passaram por um processo de engessamento e se transformaram em parte da identidade de cada eleitor

 

Interesses perderam força para paixões

 

O eleitor Fora da bolha termina decidindo a eleição

 

Houve transbordamento disputa política para o cotidiano, contaminando relações

 

A convivência entre diferentes se tornou o maior desafio

 

Os brasileiros estabelecem contato quase exclusivo com pessoas que pensam de maneira similar

 

Simplesmente recusa a informação que contraria sua crença e busca veículo que reforça o que já pensava

 

Vale espalhar mentiras, defender o indefensável e romper relações ?

 

Eventos pareciam inicialmente capazes de afetar a estabilidade eleitoral: pandemia, repique de inflação (Ucrânia), o fracasso de viabilizar a terceira via e o bilionário pacote social às vésperas da eleição

 

Lula venceu porque aumentou seu eleitorado nas grandes cidades, particularmente Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro

 

Apoio de Simone Tebet e economistas liberais deu à candidatura uma frente ampla a favor da democracia

 

A enfática defesa em facilitar o porte e a posse de armas abriu espaço para o avanço de Lula em pequena faixa de mulheres

 

O compromisso individual do cidadão é aprender a conviver com as diferenças

 

É preciso identificar convergências capazes de costurar o tecido social

 

Fazer negócios vai exigir cardápio de estratégias que hoje poucas companhias detêm

 

Quem tenta virar o jogo na força bruta deve ser extirpado

 

Na vida privada, a maioria das pessoas é bastante realista

 

O abismo que a sociedade brasileira se defronta pode ser a sensação quase niilista de que não existe saída para esse impasse, de que uma reconciliação nacional é impossível

 

Um país que se mantém assim será incapaz de enfrentar problemas econômicos, climáticos e sociais

 

Quando falava no rádio, Franklin Delano Roosevelt pedia a ajuda de seus ouvintes nas disputas com o Congresso. Seus apelos tinham o poder de fazer chover cartas na mesa dos legisladores, que se sentiam pressionados pelo eleitorado

 

Inaugurado em 22-07-1935, o programa A HORA DO BRASIL – cujo título mais tarde foi modificado para A VOZ DO BRASIL – se tornou obrigatório quando Getúlio Vargas virou ditador. A partir de John Kennedy, a TV passou a ser o principal meio de comunicação dos presidentes norte-americanos. Fernando Collor foi o primeiro produto político da TV brasileira. Barack Obama foi outro ponto de inflexão na comunicação política, presente em 16 diferentes plataformas

 

Em 2010, Marina Silva teve o melhor resultado de um terceiro colocado na história: 19,3% dos votos válidos

 

Donald Trump concluiu que as mensagens mais eficientes eram as mais polarizadoras e ultrajantes

 

Em 2014 brasileiros passaram a gastar mais tempo na internet do que assistindo à TV

 

Em18-10-2018, Patrícia Campos Mello (FSP) publicou o primeiro de uma série de artigos comprovando a existência de um esquema ilegal de disparos em massa de mensagens pelo WhatsApp sem declaração à Justiça Eleitoral, portanto crime de caixa dois

 

A consolidação de um ecossistema de comunicação política enviesado produziu dissonâncias cognitivas coletivas capazes de sugar a energia de todos no bate-rebate diário do que é verdade ou mentira

 

“Viés de confirmação”; tendência de interpretar os fatos de maneira a aceitar apenas as crenças preexistentes (psicólogo inglês Peter Wason)

 

A liberdade total dos lobos é a morte dos cordeiros (Isaiah Berlin)

 

Em geral aceita apenas aquilo que converge com suas crenças iniciais e rejeita aquelas que contrariam sua opinião, não importando se a informação recebidaé ou não verídica

 

Acredita naquilo que é compatível com seu sistema de crenças, no que prefere acreditar

 

O engajamento não é obtido por mensagens que unam a sociedade, mas por aquelas que inflam paixões, especialmente o medo, o ressentimento e a repulsa

 

As redes sociais geram normalização artificial da mentira

 

A polarização brasileira dificilmente teria alcançado os níveis atuais se cada lado da corda não estivesse sendo puxado

 

Em 1986, Bolsonaro foi preso por publicar artigo reclamando dos baixos soldos. Um ano depois repassou à revista VEJA croquis de um plano que previa a explosão de bombas na adutora que fornece água ao RJ e em unidades militares. Quase foi expulso do Exéercito. Em troca do arquivamento do processo, deixou as Forças Armadas. O uso intensivo de falas editadas, vídeos curtos e memes foi fundamental para construir sua imagem

 

O então presidente do STF, Dias Toffoli, disse que, em 2019, foi procurado por políticos, empresários e militares para discutir a possibilidade de afastamento de Bolsonaro

 

A elite brasileira é escravista. Ela pode ser avançada em um debate em Nova York, Paris, mas a mentalidade é escravista

 

Motivos para não votar Bolsonaro: agressividade, má administração, atuação na pandemia

 

Motivos para não votar em Lula: corrupto, preso

 

Não foi uma eleição de programas, propostas e comparações de governos

 

Pessoas ficam menos propensas a ouvir o outro lado, reforçando suas bolhas de convivência e seus vieses de confirmação

 

A relação entre o bem-estar econômico e o sucesso eleitoral é uma das raras unanimidades da ciência política

 

Se o governo gerou prosperidade, são enormes as chances de ser compensado nas urnas

 

Ironicamente, o general João Figueiredo implementou os dias nacionais de vacinação, com foco na poliomielite

 

O Sudeste passou a ser o campo de batalha decisivo

 

Eleitores negros, mulheres e nordestinos votaram mais em Lula, enquanto homens, brancos, do Sul e Centro-Oeste em Bolsonaro

 

A quantidade de pessoas que diz que vai votar é muito maior do que as pessoas que realmente votam

 

Sob pressão social em assuntos de cunho moral ou socialmente indesejáveis, o comportamento mais comum e tido como mais esperado é o silêncio

 

Quem se opunha à Ostpolitick (esforço para normalizar as relações entre a Alemanha Ocidental e a Oriental), acabava por se sentir marginalizado e se retirava do debate público

 

Quando um cidadão percebe estar em minoria, tende a esconder suas reais opiniões

 

Retórica agressiva em redes sociais com episódios de violência contribuiu para o sentimento de intimidação

 

O medo de que Bolsonaro se reelegesse foi sempre superior ao da volta de Lula

 

Independentemente de gostar ou não de Lula, reconheciam sua preocupação social

 

O progressismo é um movimento que sustenta ser possível melhorar as sociedades humanas por meio da ação política (Norberto Bobbio)

 

No Brasil, boa parte do conservadorismo se confunde com religião

 

Ingênuo supor que a ausência de um dos dois nas próximas eleições vai devolver o país à normalidade política

 

Mais pessoas passaram a escolher com quem conversar sobre política

 

A disputa política em eleições pressupõe um pacto de não agressão

 

Alto nível de distanciamento pessoal por razões políticas

 

Num país de polarização radical, até o passado é discutível

 

25% do eleitorado se disse intolerante em relação ao voto do outro

 

Nos anos de antagonismo PT/PSDB, ainda admitia a existência do outro

 

78% dos eleitores concordavam que o “Estado é o responsável pela redução de desigualdades”, “juízes têm muitos privilégios” e “igrejas deveriam pagar impostos”

 

75% dos brasileiros achavam que pessoas armadas poderiam se envolver em tiroteios mais facilmente, 69% consideravam que a liberação das armas criou mais riscos para os jovens e 64% tinham medo de conviver com pessoas armadas

 

3 dimensões marcam nova forma de compreender a política brasileira:

  • Distância e semelhança entre grupos
  • Valores e identidade
  • Paridade de tamanho

 

Em junho de 2023, 32% dos eleitores de Lula e Bolsonaro disseram acreditar que não reatariam amizades perdidas

 

Fé e voto tornaram-se indissociáveis na última década

 

“Os evangélicos deveriam orar a Deus para matar seus inimigos, quebrar a mandíbula do presidente Lula e prostara enfermidades nos ministros do STF” (pastor Anderson Silva)

 

O Congresso é, por definição, diverso e contraditório

 

A democracia é um sistema político que se baseia na participação dos cidadãos e no respeito pelos direitos individuais e pelas opiniões divergentes. A incapacidade de ouvir, respeitar e tolerar outros pontos de vista pode mina os princípios democráticos e levar a uma série de problemas

 

A democracia depende do diálogo construtivo entre diferentes grupos e indivíduos

 

A desilusão pode levar à apatia política, de modo que a população se afasta da participação cívica

 

Muitos dos desafios que enfrentamos exigem soluções complexas e multifacetadas

 

A falta de respeito e tolerância dificulta a busca por soluções eficazes

 

Tem saída? A resposta simples é sim, mas vai tomar tempo e esforço, demorar anos, e só acontecerá se os dois lados se dediarem

 

Atravessar as fases de negação, raiva e depressão para chegar aos estágios de negociação e aceitação de quem vive em ambiente de polarização extrema

 

Aprender a lidar com esse novo Brasil e identificar os limites do que é aceitável e do que não é, para convivência em sociedade

 

A crise da polarização extrema é um fenômeno mundial

 

Em comum, há o uso estratégico do ressentimento de parte da população com suas elites

 

É natural que pessoas de gênero, raça e renda diferentes exijam respostas distintas. É uma das vantagens da democracia sobre qualquer outro sistema político

 

Os partidos devem ter condições iguais de disputa eleitoral e o candidato que tiver mais votos leva

 

A discussão tem limitações na lei, não aceita agressões, injúrias e difamações

 

Devemos reservar o direito de não tolerar o intolerante, exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique à margem da lei e qualquer incitação à intolerância e à perseguição seja considerada criminosa, da mesma forma que incitação a homicídio, sequestro de crianças ou tráfico de escravos

 

A sociedade precisa concordar sobre limites, aceitar regras civilizatórias que não podem ser ultrapassadas

 

Necessidade de investimentos públicos consistentes no SUS e transferência de renda não é de direita nem de esquerda

 

Algumas empresas usam selos ESG para ações de marketing sem tomar nenhuma atitude real sobre o tema

 

Empresas deverão conhecer profundamente sentimentos que movem ações de consumo

 

Numa final de campeonato, quem ganha festeja, quem perde chora, e, no próximo torneio, começa tudo de novo

 

Impor limites claros de até onde vai a opinião política e onde começa a intolerância

 

Não se pode, em nome da “liberdade de expressão sem limites”, naturalizar o ódio, o preconceito, a intimidação

 

Não existe liberdade para atentar contra a democracia, pedir a volta da tortura, a morte de inimigos políticos, intervenção militar

 

A renovação do capitalismo e da democracia deve ser animada por uma ideia simples, mas poderosa: a da CIDADANIA. Não podemos pensar apenas como consumidores, trabalhadores, empresários, aforradores ou investidores (especuladores). Temos de pensar como cidadãos. Esse é o laço que une as pessoas em uma sociedade livre e democrática. É pensando e agindo como cidadãos que uma comunidade política democrática sobrevive e prospera

 

O remédio para a doença da democracia é mais democracia, o que implica em instituições mais transparentes

 

Um Estado mais transparente naturalmente terá menos incentivo para desvios de conduta

 

O discurso populista radical foi resultado de um processo contínuo de criminalização da política

 

O Congresso transformou a execução das emendas parlamentares em uma cascata de desvio e desperdício de dinheiro público

 

Nosso inferno é compreender o outro

 

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