BIOGRAFIA
DO ABISMO
Felipe Nunes e Thomas Traumann
Ed. Harper
Collins, 2023
As corporações têm dificuldade de
posicionar suas marcas
O Brasil de opiniões radicalizadas é um
dilema para todos os brasileiros
As opiniões políticas passaram por um
processo de engessamento e se transformaram em parte da identidade de cada
eleitor
Interesses perderam força para paixões
O eleitor Fora da bolha termina
decidindo a eleição
Houve transbordamento disputa política
para o cotidiano, contaminando relações
A convivência entre diferentes se tornou
o maior desafio
Os brasileiros estabelecem contato quase
exclusivo com pessoas que pensam de maneira similar
Simplesmente recusa a informação que
contraria sua crença e busca veículo que reforça o que já pensava
Vale espalhar mentiras, defender o
indefensável e romper relações ?
Eventos pareciam inicialmente capazes de
afetar a estabilidade eleitoral: pandemia, repique de inflação (Ucrânia), o
fracasso de viabilizar a terceira via e o bilionário pacote social às vésperas
da eleição
Lula venceu porque aumentou seu
eleitorado nas grandes cidades, particularmente Salvador, São Paulo, Belo
Horizonte e Rio de Janeiro
Apoio de Simone Tebet e economistas
liberais deu à candidatura uma frente ampla a favor da democracia
A enfática defesa em facilitar o porte e
a posse de armas abriu espaço para o avanço de Lula em pequena faixa de mulheres
O compromisso individual do cidadão é
aprender a conviver com as diferenças
É preciso identificar convergências
capazes de costurar o tecido social
Fazer negócios vai exigir cardápio de
estratégias que hoje poucas companhias detêm
Quem tenta virar o jogo na força bruta
deve ser extirpado
Na vida privada, a maioria das pessoas é
bastante realista
O abismo que a sociedade brasileira se
defronta pode ser a sensação quase niilista de que não existe saída para esse
impasse, de que uma reconciliação nacional é impossível
Um país que se mantém assim será incapaz
de enfrentar problemas econômicos, climáticos e sociais
Quando falava no rádio, Franklin Delano
Roosevelt pedia a ajuda de seus ouvintes nas disputas com o Congresso. Seus
apelos tinham o poder de fazer chover cartas na mesa dos legisladores, que se
sentiam pressionados pelo eleitorado
Inaugurado em 22-07-1935, o programa A
HORA DO BRASIL – cujo título mais tarde foi modificado para A VOZ DO BRASIL –
se tornou obrigatório quando Getúlio Vargas virou ditador. A partir de John
Kennedy, a TV passou a ser o principal meio de comunicação dos presidentes
norte-americanos. Fernando Collor foi o primeiro produto político da TV brasileira.
Barack Obama foi outro ponto de inflexão na comunicação política, presente em
16 diferentes plataformas
Em 2010, Marina Silva teve o melhor
resultado de um terceiro colocado na história: 19,3% dos votos válidos
Donald Trump concluiu que as mensagens
mais eficientes eram as mais polarizadoras e ultrajantes
Em 2014
brasileiros passaram a gastar mais tempo na internet do que assistindo à TV
Em18-10-2018, Patrícia Campos Mello
(FSP) publicou o primeiro de uma série de artigos comprovando a existência de
um esquema ilegal de disparos em massa de mensagens pelo WhatsApp sem declaração à Justiça Eleitoral,
portanto crime de caixa dois
A consolidação de um ecossistema de
comunicação política enviesado produziu dissonâncias cognitivas coletivas
capazes de sugar a energia de todos no bate-rebate diário do que é verdade ou
mentira
“Viés de confirmação”; tendência de
interpretar os fatos de maneira a aceitar apenas as crenças preexistentes
(psicólogo inglês Peter Wason)
A liberdade total dos lobos é a morte
dos cordeiros (Isaiah Berlin)
Em geral aceita apenas aquilo que
converge com suas crenças iniciais e rejeita aquelas que contrariam sua
opinião, não importando se a informação recebidaé ou não verídica
Acredita naquilo que é compatível com
seu sistema de crenças, no que prefere acreditar
O engajamento não é obtido por mensagens
que unam a sociedade, mas por aquelas que inflam paixões, especialmente o medo,
o ressentimento e a repulsa
As redes sociais geram normalização artificial
da mentira
A polarização brasileira dificilmente
teria alcançado os níveis atuais se cada lado da corda não estivesse sendo
puxado
Em 1986, Bolsonaro foi preso por
publicar artigo reclamando dos baixos soldos. Um ano depois repassou à revista
VEJA croquis de um plano que previa a explosão de bombas na adutora que fornece
água ao RJ e em unidades militares. Quase foi expulso do Exéercito. Em troca do
arquivamento do processo, deixou as Forças Armadas. O uso intensivo de falas
editadas, vídeos curtos e memes foi fundamental para construir sua imagem
O então presidente do STF, Dias Toffoli,
disse que, em 2019, foi procurado por políticos, empresários e militares para
discutir a possibilidade de afastamento de Bolsonaro
A elite brasileira é escravista. Ela
pode ser avançada em um debate em Nova York, Paris, mas a mentalidade é
escravista
Motivos para não votar Bolsonaro:
agressividade, má administração, atuação na pandemia
Motivos para não votar em Lula:
corrupto, preso
Não foi uma eleição de programas,
propostas e comparações de governos
Pessoas ficam menos propensas a ouvir o
outro lado, reforçando suas bolhas de convivência e seus vieses de confirmação
A relação entre o bem-estar econômico e
o sucesso eleitoral é uma das raras unanimidades da ciência política
Se o governo gerou prosperidade, são
enormes as chances de ser compensado nas urnas
Ironicamente, o general João Figueiredo
implementou os dias nacionais de vacinação, com foco na poliomielite
O Sudeste passou a ser o campo de
batalha decisivo
Eleitores negros, mulheres e nordestinos
votaram mais em Lula, enquanto homens, brancos, do Sul e Centro-Oeste em
Bolsonaro
A quantidade de pessoas que diz que vai
votar é muito maior do que as pessoas que realmente votam
Sob pressão social em assuntos de cunho
moral ou socialmente indesejáveis, o comportamento mais comum e tido como mais
esperado é o silêncio
Quem se opunha à Ostpolitick (esforço para normalizar as relações entre
a Alemanha Ocidental e a Oriental), acabava por se sentir marginalizado e se
retirava do debate público
Quando um cidadão percebe estar em
minoria, tende a esconder suas reais opiniões
Retórica agressiva em redes sociais com
episódios de violência contribuiu para o sentimento de intimidação
O medo de que Bolsonaro se reelegesse
foi sempre superior ao da volta de Lula
Independentemente de gostar ou não de
Lula, reconheciam sua preocupação social
O progressismo é um movimento que
sustenta ser possível melhorar as sociedades humanas por meio da ação política
(Norberto Bobbio)
No Brasil, boa parte do conservadorismo
se confunde com religião
Ingênuo supor que a ausência de um dos
dois nas próximas eleições vai devolver o país à normalidade política
Mais pessoas passaram a escolher com
quem conversar sobre política
A disputa política em eleições pressupõe
um pacto de não agressão
Alto nível de distanciamento pessoal por
razões políticas
Num país de polarização radical, até o
passado é discutível
25% do eleitorado se disse intolerante
em relação ao voto do outro
Nos anos de antagonismo PT/PSDB, ainda
admitia a existência do outro
78% dos eleitores concordavam que o “Estado
é o responsável pela redução de desigualdades”, “juízes têm muitos privilégios”
e “igrejas deveriam pagar impostos”
75% dos brasileiros achavam que pessoas
armadas poderiam se envolver em tiroteios mais facilmente, 69% consideravam que
a liberação das armas criou mais riscos para os jovens e 64% tinham medo de
conviver com pessoas armadas
3 dimensões marcam nova forma de
compreender a política brasileira:
- Distância e semelhança entre grupos
- Valores e identidade
- Paridade de tamanho
Em junho de 2023, 32% dos eleitores de
Lula e Bolsonaro disseram acreditar que não reatariam amizades perdidas
Fé e voto tornaram-se indissociáveis na
última década
“Os evangélicos deveriam orar a Deus
para matar seus inimigos, quebrar a mandíbula do presidente Lula e prostara
enfermidades nos ministros do STF” (pastor Anderson Silva)
O Congresso é, por definição, diverso e
contraditório
A democracia é um sistema político que
se baseia na participação dos cidadãos e no respeito pelos direitos individuais
e pelas opiniões divergentes. A incapacidade de ouvir, respeitar e tolerar
outros pontos de vista pode mina os princípios democráticos e levar a uma série
de problemas
A democracia depende do diálogo
construtivo entre diferentes grupos e indivíduos
A desilusão pode levar à apatia
política, de modo que a população se afasta da participação cívica
Muitos dos desafios que enfrentamos
exigem soluções complexas e multifacetadas
A falta de respeito e tolerância
dificulta a busca por soluções eficazes
Tem saída? A resposta simples é sim, mas
vai tomar tempo e esforço, demorar anos, e só acontecerá se os dois lados se
dediarem
Atravessar as fases de negação, raiva e
depressão para chegar aos estágios de negociação e aceitação de quem vive em
ambiente de polarização extrema
Aprender a lidar com esse novo Brasil e identificar
os limites do que é aceitável e do que não é, para convivência em sociedade
A crise da polarização extrema é um
fenômeno mundial
Em comum, há o uso estratégico do
ressentimento de parte da população com suas elites
É natural que pessoas de gênero, raça e
renda diferentes exijam respostas distintas. É uma das vantagens da democracia
sobre qualquer outro sistema político
Os partidos devem ter condições iguais
de disputa eleitoral e o candidato que tiver mais votos leva
A discussão tem limitações na lei, não
aceita agressões, injúrias e difamações
Devemos reservar o direito de não
tolerar o intolerante, exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância
fique à margem da lei e qualquer incitação à intolerância e à perseguição seja
considerada criminosa, da mesma forma que incitação a homicídio, sequestro de
crianças ou tráfico de escravos
A sociedade precisa concordar sobre
limites, aceitar regras civilizatórias que não podem ser ultrapassadas
Necessidade de investimentos públicos
consistentes no SUS e transferência de renda não é de direita nem de esquerda
Algumas empresas usam selos ESG para
ações de marketing sem tomar nenhuma atitude real sobre o tema
Empresas deverão conhecer profundamente sentimentos
que movem ações de consumo
Numa final de campeonato, quem ganha
festeja, quem perde chora, e, no próximo torneio, começa tudo de novo
Impor limites claros de até onde vai a
opinião política e onde começa a intolerância
Não se pode, em nome da “liberdade de
expressão sem limites”, naturalizar o ódio, o preconceito, a intimidação
Não existe liberdade para atentar contra
a democracia, pedir a volta da tortura, a morte de inimigos políticos,
intervenção militar
A renovação do capitalismo e da
democracia deve ser animada por uma ideia simples, mas poderosa: a da
CIDADANIA. Não podemos pensar apenas como consumidores, trabalhadores,
empresários, aforradores ou investidores (especuladores). Temos de pensar como
cidadãos. Esse é o laço que une as pessoas em uma sociedade livre e
democrática. É pensando e agindo como cidadãos que uma comunidade política
democrática sobrevive e prospera
O remédio para a doença da democracia é
mais democracia, o que implica em instituições mais transparentes
Um Estado mais transparente naturalmente
terá menos incentivo para desvios de conduta
O discurso populista radical foi
resultado de um processo contínuo de criminalização da política
O Congresso transformou a execução das
emendas parlamentares em uma cascata de desvio e desperdício de dinheiro
público
Nosso inferno é compreender o outro
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