BRASIL,
uma economia que não aprende
Novas
perspectivas para entender nosso fracasso
Paula Gala e André Roncaglia
2020
Entre 1930 e 1980 a nação brasileira
adotou um regime de política econômica desenvolvimentista e foi o país que mais
se desenvolveu no mundo
Outra teria sido a história destes
últimos 40 anos se tivessem se inspirado nos países do Leste da Ásia
É bastante reconhecida a necessidade da
intervenção do Estado em processos que envolvam externalidades positivas e
negativas, informação assimétrica, incerteza, risco elevado, e concentração do
poder econômico
A nova concepção de políticas
industriais ou de competitividade coloca no centro das preocupações a indução
daquelas sinergias baseadas no conhecimento e na capacidade de resposta à
informação da cooperação, na coordenação dos atores e na redução da incerteza
O Brasil parou seu processo de
industrialização no meio do caminho
O plano de metas de JK lançou as bases
de infraestrutura rodoviária, ferroviária e energética que usamos até hoje
Importância das capacidades produtivas
locais para gerar desenvolvimento econômico e prosperidade
Houve desindustrialização e
reprimarização da pauta exportadora, com avanço das commodities
A indústria brasileira que já chegou a
representar quase 25% do PIB caiu para 10% em 2018
Pensar o desenvolvimento econômico no
Brasil é uma necessidade
A melhoria do parque industrial
viabilizaria uma pauta de exportações mais robusta e com maiores efeitos
dinamizadores sobre a economia interna
Atividades com retornos crescentes de
escala, alta incidência de inovações tecnológicas e altas sinergias decorrentes
de divisão do trabalho dentro das empresas e entre empresas são fortemente
indutoras de desenvolvimento econômico
O Vietnã já ultrapassou o Brasil entre
os maiores exportadores do mundo
A população do Vietnã é metade da
brasileira e seu território é 66 vezes menor do que o nosso
Em 1990, o PIB per capita do Vietnã era
de US$200, já em 2017 saltou para US$2.400
O Vietnã cresce a uma média de 7,2%
sendo que as exportações crescem a uma média de 20% ao ano
Este modelo depende do investimento
estrangeiro direto (IED)
Para se desenvolver, um país precisa ser
capaz de constituir empresas nesses setores já muito bem ocupados onde os
potenciais de economias de escala e lucros são enormes: aí está a
produtividade. Tarefa nada fácil para um país emergente; sem entrar nesses
mercados e ocupar espaço relevante, não há ganhos de produtividade elevantes e
não há desenvolvimento econômico
Não é da benevolência do outro que devo
aguardar o meu sustento, mas do interesse que os outros têm pelos produtos que
possa produzir
Quanto mais raro e mais valioso for o
que eu produzo, maior o valor que as pessoas estarão dispostas a pagar pelo meu
esforço. Por outro lado, quem não tiver talentos que lhe diferenciem dos outros
estará fadado a concorrer com vários outros também com potencial mediano e
receberá menos pelo seu esforço
Karl Marx, uma vez que nem todos têm
capital ou propriedades resta-lhes apenas a possibilidade de oferecer sua força
de trabalho e receber um salário em troca de sua produtividade
Bresser-Pereira ressalta a centralidade
do papel do Estado para o êxito do capitalismo
Forte tendência a concentrar riqueza e
renda nas mãos de poucas pessoas muito ricas
Como repartir os resultados do trabalho
humano entre todas as pessoas da sociedade de maneira a garantir a todos um
padrão mínimo de vida material e social
Nenhum sistema econômico mais complexo é
autossuficiente
A interdependência das nações é o pano
de fundo do desenvolvimento econômico
“Cada país deveria concentrar seus
esforços naquilo que faz melhor, produzir os bens e serviços que lhe custam
menos em termos de energia humana e de matéria-prima” (David Ricardo)
“Os países ricos “chutam” a escada do
desenvolvimento após terem atingido um nível de avanço econômico e tecnológico,
para impedir que os países atrasados desenvolvam suas próprias forças
produtivas e se tornem potenciais concorrentes” (Friedrich List)
Cada país aplica tarifas comerciais
sobre produtos importados que protejam a lucratividade de suas indústrias
infantes, bem como lança mão de subsídios que reduzem o custo de produção dos
bens a serem exportados, para garantir maior competitividade
A importância da manufatura para o
desenvolvimento econômico
Nos anos 1960, o Banco Mundial sugeriu à
Coreia do Sul se especializar na produção de arroz, sua vantagem comparativa. A
coreia não ouviu e resolveu desenvolver sua indústria siderúrgica
Em 1987, o Banco mundial reconhece a
POSCO (siderúrgica estatal coreana) a empresa como a mais eficiente produtora
de aço do mundo
O país adotou uma estratégia de
desenvolvimento, embasada no planejamento e na aplicação de diretrizes que se
revelariam muito bem-sucedidas na promoção de avanços tecnológicos
O Estado não se limitou a dar incentivos
às empresas, apenas as empresas privadas que apresentassem resultados
continuariam a ser beneficiadas pelo setor público, mas também retira
benefícios a empresas que se mostram incompetentes
A Hyundai é a 3ª maior produtora de
carros no mundo: comprometidos com uma estratégia nacional de desenvolvimento
baseada em aprendizado produtivo e tecnológico
Especialmente na Coreia do Sul e China,
o governo sempre forçou a iniciativa privada na direção que julgou correta. Deu
incentivos, subsídios, crédito e cobrou resultados
Aprendizado tecnológico leva tempo
Um mundo com centro e periferia
O subdesenvolvimento da periferia
resulta da tentativa de expansão dos mercados nos países desenvolvidos. A
produtividade alcançada pelas inovações tecnológicas das revoluções industriais
se deparou com a deficiência de demanda em seus mercados internos, bem como
pela elevação ados custos de produção devido ao aumento no poder de barganha
dos trabalhadores. Com vistas a elevar a rentabilidade dos investimentos, as
empresas dos países industrializados passaram então a buscar matérias-primas,
trabalho barato e demanda para seus produtos no mundo subdesenvolvido. Como
nestes países não existe uma estrutura sindical organizada e raramente as
elites econômicas detêm um projeto de desenvolvimento autônomo, nasce uma
interação específica entre os interesses estrangeiros e os das elites
dirigentes. Formam-se alianças com as elites locais para bloquear o avanço de
forças sociais que acompanham o desenvolvimento econômico e que poderiam vir a
ameaçar a estrutura social vigente. Afinal, não é do interesse das empresas estrangeiras
o desenvolvimento local, pois isso poderia levar ao aumento do poder dos
trabalhadores e consequentemente à elevação dos custos das matérias-primas a
serem exportadas para o centro, além do surgimento de concorrência industrial
Os setores produtivos se modernizaram de
forma desigual e com viés primário-exportador, de forma que o atraso industrial
tornava estas sociedades altamente dependentes do ritmo de expansão dos
mercados internacionais
NÚCLEO DA TEORIA CEPALINA DO
DESENVOLVIMENTO LATINO-AMERICANO:
- Desenvolveram estruturas pouco
diversificadas e integradas; setor primário-exportador dinâmico, porém
incapaz de difundir progresso técnico para o resto da economia, de
empregar produtivamente o conjunto da mão de obra e de permitir o
crescimento sustentado dos salários reais; livre comércio aprofundaria
estes traços ao longo do tempo na ausência de uma indústria dinâmica;
- Ritmo de incorporação do progresso
técnico e de aumento na produtividade é maior nas economias industriais
(centro) do que nas especializadas em produtos primários (periferia),
gerando a diferenciação secular da renda em favor do centro; os preços de
exportação dos produtos primários apresentam tendência declinante em
relação aos produtos industrializados; dá-se aqui a percepção de que a
tendência à deterioração dos termos de troca levaria à transferência dos
ganhos de produtividade do setor primário-exportador para os países
industrializados
A saca de café que saía no Brasil, em
2018, a R$ 6,60 o quilo, se transforma numa cápsula que é vendia no varejo
brasileiro por R$ 400,00 o quilo
Países ricos importando as
matérias-primas dos emergentes, processando, colocando suas marcas e revendendo
com mais valor
A CEPAL segue mais atual do que nunca
A Coreia do Sul é o quinto país no mundo
que mais investe em P&D no setor de cosméticos
A Natura adotou arrojada estratégia de
consolidação com aquisição da AESOP em 2013 e The Body Shop em 2017, e agora a
Avon
Quem sai na frente costuma ganhar o jogo
industrial
Redes produtivas e dinâmicas de
aglomeração
No Brasil de 2017 quase metade do PIB do
país foi gerado por apenas 69 municípios
25% de toda a economia do país estava
concentrada em apenas 7 municípios
Todos os sistemas que operam com fortes
economias de escala e retornos crescentes criam centros e periferias dentro dos
país e entre países
O que se observa é um processo de
causação cumulativa, em que países com estruturas produtivas menos sofisticadas
têm mais dificuldade
O desenvolvimento econômico é sempre um
fenômeno regional e local
Os shoppings são um belo exemplo de
estrutura produtiva que gera pouco ou nenhum avanço tecnológico na economia
Faz diferença para um país se concentrar
na produção de shoppings ou fábricas de automóveis?
Será que qualquer atividade econômica
promove o desenvolvimento econômico?
Vale a pena ver o documentário Shenzhen:
The Silicon Valley of hardware, da revista Wired sobre a região.
https://www.youtube.com/watch?v=SGJ5cZnoodY
Por meio de incessante planejamento
governamental, Shenzhen tornou-se referência em alta tecnologia
O estado alemão de Baden-Württemberg: a
região não é rica graças aos seus recursos naturais, é rica por conta de sua
rede produtiva altamente sofisticada que abastece o mundo inteiro com bens
transacionáveis complexos
O Brasil emprega muita gente em
agropecuária e serviços não sofisticados, setores onde a produtividade do
trabalho tende a ser baixa
É fraca e atrasada em relação ao que se
vêm países ricos desenvolvidos
Estruturas produtivas sofisticadas
enriquecem países
A partir da análise da pauta exportadora
de um determinado país, deduz-se a sofisticação tecnológica de seu tecido
produtivo
No fim da década de 1970, a Força Aérea
Sueca cogitava importar caças estrangeiros para substituírem os Viggen. O
Comitê da Indústria Aeroespacial Militar da Suécia, por sua vez, alertou que 12
mil trabalhadores eram empregados pela indústria aeroespacial sueca e que os
efeitos da importação de aeronaves estrangeiras seriam terríveis para a
indústria local, que possuía grande importância estratégica para o país
A Suécia tem somente 5% da população
brasileira e um território 18 vezes menor que o nosso, mas exporta 60% daquilo
que exportamos.
A Suécia é a quinta economia mais
complexa do mundo
São Paulo é frequentemente chamada de a
segunda maior cidade industrial da Suécia (depois de Gotemburgo)
Desde os anos 1990, nossa complexidade
produtiva começou a regredir e voltamos a nos concentrar na produção e
exportação de commodities como minério de ferro, soja e petróleo
O limitado grau de complexidade da nossa
economia gera um dinamismo manco e uma potência fraca, e também ajuda a
explicar nossos altos níveis de desigualdade de renda
Produzir bens complexos facilita a nova
produção de outros bens complexos, cria-se alto potencial multiplicativo de
conhecimento
O que é mais fácil: fazer um avião ou um
minério de ferro?
É precisamente porque os indivíduos e as
empresas ser especializam que as cidades e os países a diversificam
As cidades mais diversificadas são mais
ricas
Uma exploração estática das vantagens
comparativas existentes, especialmente nos setores de retornos decrescentes de
escala, como extrativismo em geral, não promove o desenvolvimento econômico
O Estado deve ajudar o setor privado a
encontrar oportunidades produtivas novas e rentáveis que contribuam para o
desenvolvimento econômico
Trata-se no limite de um equilíbrio
entre estímulos e punições. A diferença fundamental entre leste da Ásia e
América Latina está na calibragem do uso desses dois instrumentos. A América
Latina descambou para um protecionismo estéril que só aumentou a ineficiência
do sistema produtivo depois de um determinado ponto. O leste da Ásia usou
protecionismo com pragmatismo e criou gigantes competitivos e eficientes
China, Japão, Taiwan e Coréia do Sul
acertaram bem
América Latina, Indonésia, Malásia e
Filipinas erraram muito
As atividades de promoção industrial
precisam ter a capacidade de se renovar, de modo que o ciclo de descobertas de
capacidades produtivas torne-se dinâmico
Redes complexas são necessárias para se
produzir bens sofisticados
3 princípios que caracterizam a condição
humana:
- Individualidade
- Curiosidade
- Criatividade
É a estrutura produtiva e sua inserção
nas redes internacionais de comércio que delimitam, dinamicamente, o espaço de
atuação conjunta de mercados e governos
Olhar para a educação sem a conexão com
a estrutura produtiva é a receita para o fracasso
A sofisticação produtiva depende da
geração e acúmulo de ideias
O capital humano determina diferenças
persistentes entre os níveis de renda per capita
O abismo que separa os países ricos dos
pobres é ainda maior do que acreditávamos
O principal motor da prosperidade das
nações é a produção de ideias
A concorrência imperfeita fornece os
lucros que incentivam os empreendedores a inovar
É possível cobrar bem caro por novas e
boas ideias
As ideias se concentram em países ricos
e geram produtos caros e com alto conteúdo tecnológico que pagam bons salários
Produzir conhecimento não é tarefa para
qualquer um
Vantagens na produção de ideias ampliam
e sustentam as desigualdades entre os níveis de renda per capita das nações
As empresas privadas dependem das
pesquisas básicas feitas por universidades e institutos de pesquisa financiadas
por dinheiro público
Grandes laboratórios farmacêuticos
ganham bilhões sobre o custo dos medicamentos desenvolvidos com dinheiro do
contribuinte
É necessário haver proximidade deste
setor de pesquisa básica com empresas que invistam em P&D e que consigam
converter este conhecimento em bens e serviços de forma massificada
Sem o Estado não haveria desenvolvimento
tecnológico sustentado
Trocamos nossas atividades ricas em
tecnologia por serviços tradicionais não sofisticados
Os países ricos têm alto conteúdo
tecnológico proprietário
O centro da economia mundial tem alto
conteúdo tecnológico proprietário em seus produtos, logo tem poder de monopólio
considerável e a periferia não
Isso torna muito difícil para países da
América Latina, África e Ásia chegarem lá
Alguns países do Leste Asiático
conseguiram
O desenvolvimento econômico pode ser
entendido, então, como um processo de aprendizagem produtiva
Alguns países pobres são capazes de
aprender ao longo do tempo, outros não
Essa aprendizagem leva à produção de
bens e serviços com poder de monopólio e alto conteúdo tecnológico, que
dificulta o avanço de outros
O conhecimento produtivo é o grande
valor que um país tem, isso o torna rico
Brasil, Argentina, Chile, México e
Turquia confiaram muito no investimento externo, no efeito transbordamento de
multinacionais, e contaram com a compra de tecnologia estrangeira
O governo chinês exigia que as
montadoras estrangeiras investissem no mercado doméstico para alcançar um 70%
de conteúdo nacional em 3 anos
O coeficiente importado da indústria
automobilística da China foi de apenas 5% em 2013/2014 (no Brasil 22%)
A integração mexicana aos EUA aumentou
suas exportações de carros ao mercado vizinho. Porém, a principal atividade
exercida naquele país é a de montagem, de baixo valor adicionado, baixo
P&D, baixos encadeamentos domésticos e competitividade via compressão dos
salários
A Gurgel começou a incomodar as grandes
montadoras nos anos 1980
O governo brasileiro acabou fazendo
políticas públicas que auxiliaram as montadoras multinacionais, por incrível
que pareça
O papel do Estado Chinês foi
preponderante para que as empresas ganhassem o mundo
Desmontamos nossas indústrias e nos
tornamos meros fornecedores de matéria-prima bruta e importadores de bens
industriais da China. Lembrando que em 1980 nossa produção industrial era maior
do que a chinesa e coreana somadas, e que individualmente exportávamos mais do
que cada um desses países
O desenvolvimento econômico depende da
ação do Estado e do mercado
O grau de sofisticação produtiva reflete
o ritmo de progresso técnico
Investimentos em P&D e o número de
patentes registradas são medidas indiretas desses processos
Grande parte da inovação na América
Latina é capitaneada pelo Estado
Nenhum país da América Latina e do
Caribe exibe um nível de patentes que se aproxime dos países de alta renda
“É preciso correr para se manter no
mesmo lugar” (Delfim Neto)
O FMI recolocou sobre a mesa a
importância da política industrial, políticas de estado para ajudar a
sofisticação produtiva de países pobres e emergentes
Não se pode ignorar o papel proeminente
da política industrial
Princípios que constituem a política
industrial verdadeira:
- Intervenção estatal para corrigir
falhas de mercado
- Orientação para exportação
- Busca de mais concorrência, com
responsabilidade, transparência
Políticas que enfatizem inovação e
tecnologia em todas as etapas do processo de desenvolvimento são determinantes
do sucesso na forma de crescimento sustentado de longo prazo
O Estado é e sempre foi peça central no
desenvolvimento tecnológico dos países hoje ricos
O Estado consegue enfrentar os
assombrosos riscos de insucesso envolvidos na pesquisa básica em inovação
tecnológica no estado da arte em cada campo do saber
Mariana Mazzucato mostra em seu
interessante livro de 2014 o papel do estado empreendedor tanto na qualidade de
fomento dos estágios iniciais de empresas como apple, quanto no financiamento e
desenvolvimento de tecnologias que depois são apropriadas pela iniciativa
privada com grandes lucros. Algumas das tecnologias usadas no novo Boing 787
foram testadas e desenvolvidas pela NASA
Indústria de semicondutores, de
computadores e nuclear, papinha de bebê, solado de tênis, óculos ray-ban, bolas
de golfe, aspirador de pó são todos produtos privados que se beneficiaram de
inovações tecnológicas que vieram do dinheiro público da NASA
Internet e GPS, duas tecnologias
essenciais desenvolvidas a partir de investimentos públicos e militares nos EUA
O estado empreendedor tem papel
fundamental no desenvolvimento tecnológico
O sucesso da política industrial em
promover o binômio inovação-competitividade dependerá de uma adequada
articulação entre Estado, mercado e sociedade civil
A combinação pode direcionar trabalho e
capital a atividades que o mercado não necessariamente empreenderia
A história bem-sucedida do setor de TI
de Israel é também um belo exemplo de sucesso da ação combinada entre Estado e
Mercado
Na Irlanda, a implantação de políticas
industriais promoveu a diversificação da economia por meio de exportações ainda
nos 1980
O governo irlandês decidiu desenvolver e
adotar uma política industrial focada na atração de investidores estrangeiros
dos setores mais dinâmicos da economia, como Intel, IBM, Motorola e Microsoft
Cingapura é mais um exemplo dessa
interação virtuosa
Estratégia comum entre países asiáticos:
implantar um modelo de industrialização voltado para exportações
O governo chinês elegeu 10 setores como
prioritários para investimentos públicos e esforços de desenvolvimento local:
1)
Equipamento
marítimo e embarcações de alta tecnologia
2)
Ferrovias
e equipamento avançado
3)
Maquinaria
e tecnologia agrícola
4)
Equipamentos
aeronáuticos e aerospaciais
5)
Produtos
biofarmacêuticos e equipamentos médicos de ponta
6)
Circuitos
integrados e novas tecnologias de informação
7)
Tecnologia
e equipamentos de geração de energia elétrica
8)
Robótica
9)
Veículos
de baixa poluição e novas energias
10)
Materiais
novos e avançados
Produtos que requerem maiores pesquisas
e tecnologia e mais sofisticados têm sido o caminho escolhido pelo governo
chinês para escapar da dependência tecnológica, inovar e competir globalmente
na área da saúde
Produção de equipamentos que envolvem a
simbiose indústria e universidade
Na província de Shandong, surgiu a
empresa BIOBASE, possui 186 patentes com certificações na Europa e EUA
Miying: programa de imagens médicas que
ajuda a detectar sinais precoces de câncer
Uma
empresa estatal chinesa, a China Mobile, disponibilizou cerca de 10 mil pessoas
para o desenvolvimento da tecnologia 6G, com gasto anual que passa dos 20
bilhões de yuans
Mais
uma vez, o Estado na frente das inovações e nas pesquisas de longo prazo
Os
chineses querem lançar o avião C919
Os
ricos chutam a escada para defender seu domínio do core tecnológico mundial
Economias
complexas são menos desiguais
Os
EUA vêm passando por um longo processo regressivo em sua estrutura produtiva
com claros e nefastos efeitos concentradores da renda e da riqueza
Retorno
da economia norte-americana a uma estrutura econômica muito desigual, em face
de mudanças institucionais e tecnológicas profundas e da expansão chinesa
Desemprego
industrial contribuiu com a compressão salarial de toda a economia e com a
deterioração de numerosos centros urbanos dependentes da produção industrial,
como Detroit e Flint
Daí
florescerem os recortes raciais e étnicos da polarização social e política que
estaria por trás da eleição de Donald Trump
Vale
muito assistir o filme American Factory. Na antiga fábrica da GM, o
salário-hora era de US$ 29,00 para entrantes. Uma empresa chinesa que produz
vidros para carros se instalou no mesmo lugar e paga salários de US 14,00 a
hora para americanos. A destruição da classe média americana aparece de forma
clara no filme.
O
nível de desigualdade reflete o grau de concentração da renda
Corrado
Gini desenvolveu um método simples para avaliar a concentração de renda em um
país
Países
mais complexos e sofisticados apresentam níveis de desigualdade menores
Países
especializados em produção de commodities são mais desiguais
Países
apenas agrícolas e mineradores têm os maiores índices de Gini do mundo
Finlândia,
Noruega, Áustria, Dinamarca, Suécia, Alemanjha, Suiça e Japão estão entre os
menos desiguais do mundo
São
também os países mais complexos e sofisticados do mundo
A
sofisticação produtiva reduz a desigualdade
Maior
coleção de produtos sofisticados ou complexos na pauta de exportação de um país
gera maior transbordamento salarial para outros setores e empregos
Sem
avanços na sofisticação produtiva não haverá redução de desigualdade de forma
sustentável
Chile
é ainda extremamente dependente da exportação de minérios
O
Brasil é muito desigual pois tem um sistema produtivo ruim, com baixa
complexidade e pouca sofisticação. Faltam oportunidades, faltam bons empregos e
faltam bons salários: não temos nem empresas nem produtos para gerar essas
oportunidades. Um produto sofisticado ou complexo requer maiores habilidades
produtivas e, portanto, gera salários mais altos
Um
produto sofisticado ou complexo gera uma divisão de trabalho relativamente
extensa e isso leva à criação de empregos
Quanto
mais escasso é um tipo de competência, maior o preço que o mercado paga ao
profissional que a detém
O
caminho da distribuição de renda deve ser conjunto com o do aumento de
produtividade, criando um ciclo virtuoso de aumento de produção e repartição
dos ganhos produtivos. Uma rede ou sistema onde as inovações e ganhos de
eficiência promovem novas ondas de ganhos de produtividade e complexidade, num
ambiente geral de criação de riquezas
Os
arranjos produtivos criativos, inovadores e complexos podem favorecer o avanço
de produtividade e vice-versa
Ou
seja, a redução da desigualdade pode funcionar como motor da inovação e ganhos
de produtividade com trabalho e capital alinhados na mesma direção
O
Estado tem papel fundamental para tentar contribuir na construção e nas
possibilidades de acesso a essas redes produtivas que levam ao avanço da
complexidade das cidades, regiões e países
Diferenças
que derivam da concentração da riqueza pessoal e do poder político e econômico
nas mãos de poucos grupos sociais e do escasso acesso a serviços públicos
básicos, como saneamento, saúde e educação. Este tipo de desigualdade joga
contra a prosperidade vislumbrada por Adam Smith
Livro
POR QUE AS NAÇÕES FRACASSAM, de Daron Acemoglu e James Robinson, 2012
A desigualdade deve ser recolocada no
centro das reflexões da ciência econômica
Para Piketty, há inúmeras instituições e
políticas que canalizam renda e riqueza para os mais ricos, em detrimento dos
trabalhadores e das famílias mais vulneráveis às mudanças no mercado de
trabalho.
Uma combinação de taxação de grandes
fortunas em escala global e a retomada de políticas fiscais redistributivas e
de restauração do estoque de capital do Estado e de sua oferta de bens e
serviços públicos seriam, na visão de Piketty, uma boa forma de conter o avanço
da desigualdade
Uma boa política pública que objetive a
redução da desigualdade deve promover a criação de bons empregos com altos
salários
O mercado sozinho não dá conta de criar
uma oferta adequada de bons empregos, sendo necessária a atuação estatal para
induzir a criação dos mesmos
Subordinar o desenvolvimento nacional às
vontades do mercado levou o Brasil a um aprisionamento da matriz produtiva em
setores de baixo conteúdo tecnológico devido à desindustrialização
Erros
e acertos no Brasil
O
papel do Estado é fundamental para escapar da armadilha do subdesenvolvimento
Apenas
o uso de políticas protecionistas para desenvolver a indústria nascente não
garante o sucesso de empresas e países
Exemplos
de fracassos: Zona Franca de Manaus. Não basta fomentar uma indústria. Ela
precisa crescer, amadurecer e se tornar eficiente para lutar no cenário
internacional
Nossa
ZFM seguiu a mesma lógica de maquila de importação
EMBRAER:
o maior símbolo dessa feliz articulação entre Estado e mercado
O programa Prosub para desenvolvimento
de submarinos movimentou 700 empresas civis nacionais, 18 universidades e
institutos de pesquisa e foi responsável pela geração 4,8 mil empregos diretos
e 12,5 mil empregos indiretos. Será que esses projetos vão sobreviver aos
cortes orçamentários
WEG:
belo exemplo de diversificação e sofisticação produtiva no Brasil
Outro
exemplo de sucesso é a lei brasileira dos genéricos que provocou grande impulso
em nossa indústria
Lei 9.787: viabilizou a comercialização
por qualquer laboratório de medicamentos cujas patentes estivessem expiradas
Enquanto no início dos anos 2000 a
estrutura produtiva no país era predominantemente multinacional, hoje grande
parte das maiores farmacêuticas atuantes no Brasil em termos de faturamento tem
capital de origem nacional
O acordo TRIPS impõe padrões mínimos de
proteção de direitos de propriedade intelectual que os países membros da OMC devem
incorporar em suas respectivas leis nacionais
O padrão de especialização produtiva
perseguido por nações significa dominar tecnologias avançadas de produção e
criar capacidades e competências locais proprietárias nos setores mais nobres
Significa fazer o melhor uso dos
recursos da nação, mas de forma estratégica
Produzir castanhas de caju ou chips de
computador, carros ou havaianas, bananas ou computadores faz diferença
A desindustrialização brasileira criou
uma geração de trabalhadores com um ou mais diplomas universitários que viraram
cozinheiros, entregadores e taxistas de aplicativo
Após atingirem um elevado estágio de
desenvolvimento os países ricos “chutam a escada”, tentando impedir que países
pobres percorram o mesmo percurso
As ocupações em si e tipos de vagas de
trabalho são mais importantes do que a qualificação
Se não houver postos de trabalho
qualificados, não adianta qualificar a população
O que e como se produz são essenciais
Países ricos têm vantagens gigantescas
sobre seus concorrentes em países pobres e em desenvolvimento no que diz
respeito a domínio de mercados, propriedades de tecnologias, escala de produção
etc
Não existe objetivo maior do que criar
uma indústria local, competente, capaz de produzir para o mercado mundial com
grande excelência tecnológica
Como esses campões internacionais não
surgem naturalmente do dia para a noite, o governo deve ajudar com subsídios,
tarifas e financiamentos até que essas empresas atinjam escala e força
suficiente para competir no mercado doméstico e mundial
Trata-se da velha ideia da indústria
infante, cujo conceito precisa ser constantemente atualizado para os movimentos
tecnológicos e comerciais do jogo econômico, para que capacidades obsoletas não
sejam nutridas por políticas rígidas e inerciais
Não basta ter as instituições certas em
dado momento do tempo
É preciso que as próprias instituições
econômicas e políticas sejam suficientemente flexíveis para incorporar as
inovações de forma sólida e direcionada ao desenvolvimento social e econômico
Muitos dos gigantes asiáticos de hoje
surgiram de estratégias desse tipo, envolvendo políticas industriais e
direcionamento estatal que se somaram a uma competentíssima iniciativa privada,
aguerrida e eficiente
É um jogo de cartas marcadas e resultados
garantido, não é um jogo para amadores
O comércio internacional não poderia
resultar da especialização vocacional de cada nação, mas da transformação
tecnológica de suas matrizes produtivas
Isso requeria alterar ativa e
deliberadamente a estrutura de produção
Um Sistema Nacional de Inovação compõe-se
do envolvimento e integração entre 3 principais agentes:
- O Estado, responsável por aplicar e
fomentar políticas públicas de ciência e tecnologia;
- Universidades e institutos de
pesquisa responsáveis por criar e disseminar o conhecimento; e
- empresas responsáveis pelo
investimento na transformação do conhecimento em produtos
nesses sistemas, o investimento público
e a ação do Estado como fomentador, financiador e aglutinador são sempre
essenciais
o fomento e a proteção da política
industrial requerem disciplina no seu uso, para que se gerem as contrapartidas
caso contrário, recursos públicos são
desperdiçados ao atender aos interesses econômicos de grupos de pressão sem
beneficiar a coletividade
na política industrial, o governo age
como um técnico de futebol, articula os jogadores, escala o time mas não entra
em campo
o setor público pode e deve contribuir
com políticas de estimulo à inovação e educação adequadas além da manutenção de
preços macro adequados (equilíbrio fiscal, inflação baixa e estável, câmbio
competitivo, prêmio de risco e juros baixos)
o protecionismo à indústria infante pode
ser usado em casos específicos, mas com metas de ganhos de produtividade e
prazos bem definidos, como se fez no Leste Asiático
sobre a abertura comercial, é importante
observar que o nível da taxa de câmbio real é chave
este breve livro é convite para engajar
estudantes e pesquisadores em trabalhos e estudos futuros nesta linha
“Quando a capacidade criativa do homem
se volta para a descoberta de suas potencialidades e ele se empenha em
enriquecer o universo que o gerou, produz-se o que chamamos de desenvolvimento”
(Celso Furtado).
O Brasil se perdeu, mas sempre é
possível reencontrar a rota para um futuro melhor
https://benfeitoria.com/projeto/brasilnaoaprende
O
DÓLAR E OS DESEQUILÍBRIOS GLOBAIS. Belluzzo, L. G. Revista de Economia
Política, v.25, n.3 (99), jul/set, p.224-232
O
DESENVOLVIMENTO CEPALINO: problemas teóricos e influências no Brasil.
COLISTETE, R. P.
21 LIÇÕES
PARA O SÉCULO 21. HARARAI, Y. N. São Paulo: Companhia das Letras, 2018
ESTRUTURA
PRODUTIVA E CRESCIMENTO: uma análise comparativa de Brasil, Austrália e Canadá.
ROMERO, J; P., RESENDE, L. V. Prêmio ABDE-BID, ed. 2017. Coletânea de
Trabalhos, p.89-119. Rio de Janeiro, ABDE